sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Desculpe-me Alice

O lugar não era o melhor, lá, nunca estive antes. Formados por paredes rabiscadas e um toillet sujo de lugares-sombrios, o lugar cavernoso, como alguns ousaria chamar, me fez pensar em uma fase da vida de alguns personagens históricos, que até então não teria prestado atenção de quanto eles foram intensos na minha vida.

Do outro lado daquilo que poderia se chamar, “just place”, em frente a mim, estava um garoto de seus 20 anos. Ele me fez julgar que diariamente sua presença era constante alí, seja para encontrar “grandes” amigos ou apenas afogar qualquer coisa que fosse, naquele seu copo minúsculo acompanhado de limão e um pedaço de algo em um espeto, que não o dava muito prazer, pois a cada degustação ele urrava, mas na verdade, acho que eram gritos de satisfação dados pelo prazer de algo que queima a alma e o faz esquecer a vida, essa... cof cof... vida.

Deixando o cara com seus gritos de: “agüento mais uma” – eu voltei a pensar nos personagens que até então eram tudo que queria ser. O Super-homem já me fez querer voar e nessas loucuras pulei da cama dos meus pais, achando simplesmente, que estava caindo da Torre Eiffel. O Batman? Caro Batman dono de um mega-carro que anos de universidade e sonhos não me faria possuir nunca, até mesmo porque ele é tão irreal quanto os poderes do ilustríssimo e elegante amigo-másculo e suspeito Batman, que me instigou querer morar numa caverna.

Se eu pudesse não ser algum, mesmo não sendo nenhum deles, eu me atormentaria vivendo como um homem-aranha, até mesmo porque minha aracnofobia me faria, constantemente, viver num dilema de crise de identidade constante, e eu, não estou preparado pra isso nunca.


Mas, de todos eles, parei por um instante em uma garota, não que eu queira ser sua personagem, até mesmo porque não estou preparado pra vestir “jardineiras” (roupinhas de meninas prendadas e educadas em casa de famílias tradicionais). Eu me vi sendo seguido por uma garota de olhos castanhos e cabelos loiros, ela me perguntava sobre tempo e eu como um coelho atrapalhado, vivo alguns minutos atrasado do tempo que busco, não pude dá resposta aos seus questionamentos.


Desculpe-me minha cara Alice, mas o mundo que vivo não é o País das Maravilhas que você busca, se foi, ele hoje muda constantemente de Maravilhas para um antônimo que não encontro para definir.


Não coma e não beba nada, me deixa fazer isso por você, a única coisa que preciso é me alimentar e tomar algo que me queime a alma, como aquele garoto que urrava de satisfação. Queria sentir e senti isso, com alguns copos de algo que meu paladar não reconhecia, pois nunca o foi dado o prazer de sentir.


Voltando ao meu “just place” (darei esse nome ao lugarzinho que agora é “só meu”) o som me levou àqueles forrozinhos do sítio que meus amigos e eu costumávamos ir quando adolescentes desesperados por um beijo (vida de garotos de 15 anos na década de 90). Tocava na vitrola, estou querendo cinematografar, na verdade era um DVD moderno comprado por R$99,00 reais naquelas lojas que nos dão A SENHA (publicidade total aqui).

Ao som de um brega-rasgado daqueles que doem na alma, eu dividi comigo alguns versos quebrados: “Ela que me deixou sem saída, ela que é minha vida” – “Canto para aliviar essa saudade que me dói, porque ela saiu de casa e levou a minha vida”, mas também ri de desespero, na verdade, eu ri de mim mesmo, porque está naquela situação, naquele momento tão meu e irreconhecível, é muito “funny” para se levar a sério.

De tudo isso, aprendi uma coisa, minha estimada Alice. Não me siga, pergunte ou me consuma nesse momento, estou num prazo de validade de tempo que meu relógio anda duas horas a menos que qualquer outro fuso-horário. Você hoje é minha preocupação, talvez por sua sensibilidade e inocência, e por tudo isso eu te digo que não estou apto a te dar uma direção e sim a te desviar dessa corrida para se chegar a lugar nenhum.

Come a maçã, joga tuas tranças ou espera uma fada te transformar em princesa, mas saiba que aqui, chegará um Batman, voando como um Super-homem jogando a teia pra te segurar e não te levar para o mundo que é o antônimo do seu País das Maravilhas.

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