E se foram os dias, como se não existissem outros, eles se
foram. Levaram grandes lembranças e deixaram saudades. Não sei se o relógio
corre para o tempo passar, ou para deixar marcado cada segundo do tempo no
momento corrido.
Hoje olhei para os ponteiros e cada “tic tac” ele me fazia
lembrar de cada segundo antes que eu não aproveitei porque estava, justamente, esperando
o próximo. Foi loucura isso, mas eu fiz... Não sei por que ouso analisar cada
segundo do meu dia, quando na verdade preciso o deixar correr sem eu perceber,
para doer menos, para sofrer menos, para machucar menos, para viver mais.
As madrugas insólitas que tenho todos os dias desde que
troquei o dia pela noite, me trazem tantos desejos (saudosistas), tantos pensamentos
vagos e desconexos. Aquele homem que
apita todas as noites parou de fazer o barulho diário avisando que está passando.
Será que ele está bem? Pensei outro dia!
Além dos meus problemas, preocupei-me com alguém que nem
imagina que existo e estou naquela janela de luz fraca originada de uma TV ligada
em um canal qualquer. Aquele senhor que passa em uma bicicleta antiga, nem
imagina que o “seu barulho” é companheiro, sem ele, me sinto mais sozinho,
porque sei que a vida está sem movimento e eu estou ali, imóvel, das muitas
vezes esgotado, triste, entre alguns sorrisos frios e pensamentos inúteis. Os
canais da TV continuam sem conteúdo, a rua vazia, meus pensamentos e minha cama
(idem).
Posso até parecer insensível a mim, quando me sucumbo a uma
taça de vinho e algum som melancólico de um cantor que sabe definir amor de uma
forma tão real, quando nem imaginei que seria de tal forma. Hoje estou cuidando
de mim, como fazem os poetas quando se drogam de palavras para representar o desgosto
da vida, de um dia ou de amor que se foi... Como se foram os meus!
Ainda jogo um largo sorriso no rosto para a vida, para o
vizinho, para o colega de trabalho. Ainda realizo a velha rotina de acordar e
lutar pela vida, para viver e sobreviver. Mas, meu coração representa em um
espetáculo, minha face é representação fiel de um ator, que “anda pelo mundo
divertindo gente e chorando ao telefone” que hoje sabe que “o mundo sempre foi
um circo sem igual... Onde a farsa de um palhaço é natural... onde pinto meu
coração e hoje sei que o palhaço pinta o rosto pra viver...”
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